sábado, 23 de junho de 2012

Livros - À guisa de orelhas ao livro de Pedro Vicente Costa Sobrinho: Capital e Trabalho na Amazônia Ocidental - CELSO FREDERICO


Os estudos sobre o sindicalismo brasileiro iniciaram-se a partir de pesquisas realizadas em São Paulo nos anos 60 e conheceram um enorme desenvolvimento na década se­guinte. Quem conhece esta literatura sabe que, salvo raras exceções, o seu referencial empírico concentra-se no eixo São Paulo-Rio de Janeiro. Apesar disso, tais pesquisas se fi­zeram acompanhar de uma teorização am­pla, visando a relacionar o sindicalismo seja com o Estado, seja com o mercado de traba­lho ou qualquer outro tema a partir do qual a história sindical era interpretada. Tal procedi­mento, contudo, levou as pesquisas a servi­rem somente de suporte a interpretações ge-neralizantes sobre o movimento sindical. O que era apenas uma realidade localizada passou, assim, a ser visto como uma história globalizante cristalizada antes do conheci­mento efetivo da diversidade recoberta pelo mundo do trabalho. Nada como uma boa pesquisa regional para desmentir generaliza­ções indevidas e repor a riqueza do real: es­te é o caminho duro e necessário que permi­tirá, num futuro próximo, um conhecimento to­talizador, contendo a pluralidade viva dos di­versos

O livro de Pedro Vicente Costa Sobrinho acena nesta direção. Obra séria e competen­te, guiada por pretensões modestas, que ge­rou resultados importantes. Como um bom pesquisador, o autor é modesto: apresenta uma descrição minuciosa do processo de tra­balho nos seringais acreanos, com sua violên­cia e brutalidade terríveis, em vez das eternas discussões abstraías e vazias sobre capitalis­mo e pré-capitalismo. A riqueza de sua análi­se, dispensando o teoricismo estéril, faz revi­ver uma vez mais o contraste entre as cores vi­vas do real e a palidez das construções teóricas.

O leitor é posto em contato com a história viva dos trabalhadores do Acre no século XX, a história  tirada das sombras pela infinita paciência do autor, que desenterrou documentos e depoimentos escassos e rarefeitos para construir uma monografia exemplar. A luta  dos trabalhadores rurais é o centro irradiador da narrativa e dos principais personagens envovidos: o PCB, as Ligas Camponesas, a Contag, a Igreja Católica. Essa luta teve um herói e mártir conhecido mundialmente, Chico Mendes, ao lado de tantos outros personágens anônimos, atores e autores da história do sindicalismo rural. E no Acre, mostra o autor, o campo organizou a cidade: a atuação das ligas e sindicatos rurais foi o elemento dinâmico que motivou a organização dos trabalhadores urbano

Pedro Vicente Costa Sobrinho, professor de sociologia da Universidade Federal do Acre e ativo militante na região, com sua narrativa sóbria refaz o percurso da história dos trabalhadores do Acre, mostrando o desenrolar do processo histórico e captando, em cada momento,  a particularidade de seu objeto de estudo. O resultado final é um trabalho maduro e refletido que, na modéstia de suas intenções, restringe o âmbito de diversas teorias “globais” e acrescenta elementos novos para se repensar uma futura história do sindicalismo que dê conta da pluralidade das situações vividas no mundo do trabalho.




Celso Frederico, professor titular da Universidade de São Paulo (USP); é autor, entre outro livros, de Marx, Lukács: a arte na perspectiva ontológica; A vanguarda operária; Consciência operária no Brasil; O jovem Marx: as origens da ontologia do ser social; Sociologia da Cultura: Lucien Goldmann e os debates do século XX; e Crise do Socialismo e movimento operário.

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